São esculturas de areia, frágeis mas com estrutura suficiente para sustentar famílias inteiras que ficaram para trás.

Os autores vêm da Roménia e, todos os dias, refazem uma obra efémera para dar um sentido à vida dos outros.

Realização: Tal Amiran
Câmera, Montagem: Tal Amiran
Som: Rick Blything
Música: Oli Harrison, Louise Brown
Tradução: Nuno Prudêncio, Gabriel Pereira Vilaça

Entrevista

Tal Amiran | 99.media

Tal Amiran Diretor

“Quando fazemos um documentário
lidamos com pessoas reais e não atores,
e a criação de amizades
com os meus personagens é inevitável.”
  • Como começou este projeto?


A ideia para realizar “Os Homens de Areia” ocorreu por coincidência, na verdade. Estava a trabalhar num filme diferente quando, numa manhã em que estava a ir de bicicleta para o meu estúdio, deparei-me com uma escultura de areia de um cão no passeio da Holloway Road, uma rua bastante movimentada em Londres. Parei de imediato e fui dar uma vista de olhos.

Era surreal. Ali, estendida no chão encardido, estava uma escultura de um cão de areia, algo que estamos habituados a ver na praia durante as férias. Parei e fiquei uns bons minutos a observá-la e ao seu escultor, que mais tarde descobri ser romeno. Foi mais tarde que me apercebi que isto era um fenómeno estabelecido e que havia mais pessoas romenas a criar esculturas semelhantes ao longo dos passeios do Reino Unido.

  • Como entrou em contacto com Aurel, Neculai e Raj?


Encontrar os meus colaboradores não foi tão fácil como pensava. Tinha ouvido dizer que havia alguns escultores de areia espalhados pela parte norte e oeste de Londres, mas foi uma aventura para os encontrar.


Foram-me dadas dicas de pessoas que os tinham visto e pedi a lojistas que me ligassem se se deparassem com algum deles, visto que estavam constantemente a mudar de lugar e eram muito difíceis de encontrar. Visitei alguns dos locais mas nem sempre tinha sorte para os encontrar. Entretanto, conheci Aurel, Neculai e Raj. Começámos a falar e fomos criando amizades e confiança entre nós, o que me levou a continuar o projeto.


O desafio principal durante a produção foi a barreira linguística, visto que nenhum dos três personagens falava inglês. Tivemos que comunicar através do uso da aplicação do Google Tradutor no meu telemóvel e com recurso a intérpretes. O filme nunca teria sido terminado sem a ajuda de três incríveis intérpretes que trabalharam comigo durante a produção e pós-produção.

Sand Men | 99.media
  • Escolheu usar imagens ilustrativas que mostram uma cidade de Londres cinzenta e monótona, em crise, em declínio. Apercebemo-nos também da existência dum certo distanciamento na sua maneira de contar esta história. Qual foi a sua abordagem?


Nas minhas duas últimas curtas-metragens usei uma abordagem com um estilo semelhante: filmei em vérité e depois gravei o áudio de algumas entrevistas com os meus colaboradores, que foi depois usado por cima das imagens que tinha filmado.

Quando faço um filme, nunca tenho um plano pré-concebido. Começa sempre com uma curiosidade pura sobre o tema e as pessoas, pois tenho que explorar o tema e conhecer os meus colaboradores. No entanto, há sempre um tema maior no qual estou interessado quando faço um filme e, com “Os Homens de Areia”, foi o tema de imigração e a opinião contra a imigração existente em Inglaterra nos últimos anos, o que levou aos resultados deprimentes do referendo do Brexit. Espero poder ser capaz de contar uma história maior ao focar-me em histórias individuais, sem ser didático e sem dizer à audiência o que devem pensar.

Nos meus filmes convido o público para uma viagem, para que cheguem às suas próprias conclusões. O filme deve ser aberto para que o espectador tenha as suas próprias ideias e emoções.

  • Ainda mantém contacto com Aurel, Neculai e Raj?


Falo frequentemente com dois dos personagens do filme. Quando fazemos um documentário lidamos com pessoas reais e não atores, e a criação de amizades com os meus personagens é inevitável.


Existe uma ligação que é criada entre mim e os meus colaboradores. Podemos não falar todos os meses mas falamos frequentemente, e eu ajudo-os sempre que posso. Naquela altura, criei também uma campanha GoFundMe para ajudar os colaboradores do filme.

Hommes de sable | 99.media
  • Está a trabalhar em algum projeto neste momento?


Estou a produzir o meu novo filme. Tudo o que posso dizer por agora é que o filme se passa em Paris e que se foca no tema da imigração mais uma vez, mas desta vez com uma abordagem ligeiramente diferente.


Este filme vai ser também mais longo do que as minhas duas últimas curtas-metragens e mal posso esperar para o partilhar com o público assim que estiver concluído!

  • Uma palavra sobre a 99 e a legendagem multilinguística do seu filme?


Aprecio imenso o trabalho que a 99 faz. Não é comum um filme ser traduzido para várias línguas e acho que o trabalho que fazem é muito importante, aumentando o alcance do filme e tornando-o acessível a um público que provavelmente não o teria visto devido à barreira linguística.

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